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mardi 3 décembre 2013

PADRE ANTONIO VIEIRA. ( Sermao de Santo Antonio aos peixes.)


“Vos”, diz Cristo nosso Senhor, ao falar com os pregadores, “ sois o sal da terra”. E chama-lhes sal da terra, porque quer que eles façam na terra , o mesmo que faz o sal. O efeito do sal é impedir a corrupção, mas quando a terra se vê tão corrupta como esta a nossa, havendo tantos nela que têm o oficio de sal, qual será ou qual pode ser a causa dessa corrupção? Ou é, porque o sal não salga, ou porque a terra não se deixa salgar. Ou é, porque o sal não salga, e os pregadores não pregam a verdadeira doutrina; ou porque a terra não se deixa salgar, e os ouvintes, sendo verdadeira a doutrina que lhes dão, não a querem receber. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores dizem uma coisa e fazem outra; ou porque a terra não se deixa salgar, e os ouvintes querem antes imitar o que eles fazem, em vez de o que dizem. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores pregam-se a si  e não a Cristo; ou porque a terra não se deixa salgar, e os ouvintes, em vez de servir a Cristo, servem os seus apetites. Não é tudo isto verdade? Ainda mal.
Suposto, pois, que,  ou o sal não salgue ou a terra não se deixe salgar, que se há-de fazer ao sal que não salga?
Cristo disse-o: Quod si sal  evanuerit, in quo salietur? Ad nihilum valet ultra, nisti ut mittatur  foras et  conculcetur ab hominibus. (Mateus V- 13). Se o sal perder a substância e a virtude, e o pregador faltar à doutrina e ao exemplo, o que se lhe  há-de fazer é lança-lo fora como inútil, para que seja pisado por todos. Que se atrevera a dizer tal coisa se mesmo Cristo não a pronunciara? Assim com não há quem seja mais digno de reverência e de ser posto sobre a cabeça, que o pregador que ensina e faz o que deve; assim é merecedor de todo o desprezo e de ser metido debaixo dos pés o que com a palavra ou com a vida prega o contrario.
Isto é o que se deve fazer ao sal que não salga. E à terra que não se deixa  salgar, que se lhe há-de fazer?
Este ponto não o resolveu Cristo no Evangelho; mas temos sobre ele a resolução  do nosso grande português Santo António, que hoje celebramos, e a mais galharda(*) e gloriosa resolução que nenhum santo tomou.

(Pregado em São Luís  do Maranhão, a 13 de Junho de 1654, três dias antes de embarcar secretamente par a Portugal (a fim de interceder em favor dos indígenas). Revela fina ironia, riqueza nas sugestões alegóricas  e agudo senso de observação sobre os vícios e vaidade do Homem, comparando-o através de alegorias, aos peixes.
Critica a prepotência dos grandes que, como peixes, vivem do sacrifício de muitos pequenos, os quais “engolem” e “devoram”.  O alvo são os colonos do Maranhão, quo Brasil são grandes, mas em Portugal  “ acham outros maiores que os comam, também a eles.”
Censura os soberbos (=rocandores), os pregadores (=parasitas); os ambiciosos(=voadores; os hipócritas e traidores (=polvos.”
“O polvo com aquele seu cabelo na cabeça, , parece um monge; com aqueles seus ralos estendidos, parece uma estrela; com aquele não ter osso nem espinha, parece a mesma brandura, a mesma mansidão. E debaixo dessa aparência tão modesta ou dessa hipocrisia tão santa, testemunham constantemente (...) que o dito polvo é o maior traidor do mar.

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