Ser poeta, é ter o dom de transformar em paisagem aprazível
qualquer lugarejo que para o comum dos mortais, é inóspito.
O sonhador sobe para cima de um penedo onde
nem os gafanhotos querem viver e pode entender que aquilo é magnifico. Se junto
do penhasco houver um pinheiro mesmo que invadido por lagartas processionarias
, o poeta vai esquecer o efeito
urticante causado pela bicharada e a paisagem torna-se sublime,
estupenda. Talvez o poeta tenha imaginado a flor do pinheiro centenário que
fecundada na Primavera, deu origem a nova pinha que depois de mudar de forma,
cor e tamanho, viu com o Verão, chegada a hora de libertar a sua progenitura.
Farto de ser oprimido nas entranhas da mae pinha, estava o pinhão, quando
viu chegada a hora da liberdade; Bateu as palmas, saltou de alegria, mas na
hora da verdade, (qual pára-quedista antes do primeiro salto,) hesitou,
agarrou-se às paredes, mas estava escrito, o vento sacudiu o ramo que lhe
servia de cordão umbilical, e este foi projectado para o vácuo.
Quis a Previdência que o vento o ajudasse a
subir nas alturas e rodopiando tentou escolher o lugar ideal para “aterrar”.
Não podia escolher um jardim ou seara, porque
segundo os humanos seria indesejável; foi poisar-se entre dois rochedos onde
nem os animais o pudessem tragar. Ai nasceu um esplêndido pinheiro que depressa
cresceu ate que um casal de namorados em busca de aventura, entendeu que o
lugar era demasiado inóspito para tão linda dadiva da natureza, o mandou
cortar, fez com a madeira um barquinho e pôs-se a navegar. Aproveitou para esse
fim um pequeno rio que passava perto, afluente de um outro que os levaria ate
ao Oceano.
Começavam os apaixonados a sonhar com uma
ilha deserta onde pudessem olhar-se no branco dos olhos sem incomodar ninguém, quando foram
surpreendidos por uma tempestade e o barquinho fracassou contra a margem.
Em homenagem à arvore que tanto prazer lhes
proporcionara, decidiram os apaixonados plantar muitos pinheiros a fim de que
todos os namorados do mundo pudessem construir um barquinho e pôr-se a navegar,
mas como não os encontraram, plantaram então outras arvores, muitas arvores.
Deve isso ter acontecido ao Sul de Coimbra, e
foram talvez os namorados em questão que plantaram o Choupal.
António S. Leitão.
Quando a tristeza
chegar
Faz um barquinho
E põe-te a navegar
E cria a esperança
breve
De que és uma pena
leve
Muito leve a flutuar.
(Poeta desconhecido)
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