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samedi 7 décembre 2013

A MOLEIRINHA.


Pela estrada plana, toque, toque, toque,
Guia o jumentinho uma velhinha errante.
Como vão ligeiros, ambos a reboque,
Antes que anoiteça, toque, toque, toque,
A velhinha atrás, o jumentinho adiante!...

Toque, toque, a velha vai para o
Moinho,
Tem oitenta anos, bem bonito rol!...
E contudo alegre como um passarinho,
Toque , toque, e fresca com o branco
linho,
De manha nas relvas a corar ao sol.

Vai sem cabeçada, em liberdade franca,
O jerico russo duma linda cor;
Nunca foi ferrado,  nunca usou retranca,
Tange-o, toque, toque, a moleirinha
Branca,
Com o galho verde duma giesta em flor.

Vendo esta velhinha, encarquilhada e
Benta,
Toque, toque, toque, que recordação!
Minha avo ceguinha se me representa...
Tinha eu seis anos, tinha ela oitenta,
Quem me fez o berço fez)lhe o seu caixão!...
Toque, toque, toque, lindo burriquito,
Para as minhas filhas quem mo dera a mim!
Nada mais gracioso, nada mais bonito!
Quando a Virgem pura foi para o Egipto,
Com certeza ia num burrico assim.

Toque, toque, é tarde, moleirinha santa!
Nascem as estrelas, vivas em cardume...
Toque, toque, toque, e quando o galo canta,
Logo a moleirinha, toque se levanta,
P’ra vestir os netos, p’ra acender o
Lume...

Toque, toque, toque, como se espaneja,
Lindo o jumentinho pele estrada chã!
Tão ingénuo e humilde, dá-me, salvo
seja,
Dá-me ate vontade de o levar à
Igreja,
Baptizar-lhe a alma, p’ra fazer
Crista!

Toque, toque , toque, e a moleirinha antiga,
Toda, toda branca, vai uma frescata...
Foi enfarinhada, sorridente amiga,
Pela mo  da azenha com farinha triga,
Pelos anjos loiros com luar de prata!...

Toque , toque, como o burriquito
Avança!
Que prazer d’outrora  para os olhos
Meus!
Minha avo contou-me, quando fui
Criança,
Que era assim tal qual a jumentinha
Mansa
Que adorou nas palhas o menino
Deus...

Toque, toque é noite... ouvem-se ao longe os sinos,
Moleirinha branca, branca de luar!...
Toque, toque, e os astros abrem diamantinos,
Como estremunhados querubins  divinos,
Os olhitos meigos para a ver passar...

Toque, toque, e vendo sideral tesoiro,
Entre os milhões d’astros o luar sem véu,
O burrico pensa: quanto milho loiro!
Quem será que moí  estas farinhas d’oiro
Com a mo de jaspe que anda além no
Céu!

Guerra Junqueiro.














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