Havia já vários dias que do sul do Concelho
se levantavam vozes a perguntar se a gente dali de cima não estaria a exagerar,
e à primeira vista, não teriam completamente culpa, mas o acontecimento não era
para menos.
Acontece que os foguetes estalejavam de tal
forma que já parecia a Senhora dos Remédios. Eu explico-me.
Entre a povoação de Rãs e Souto de gulfar, a
partir de um lugar chamado Rodela, havia antigamente um caminho pelo qual
circulavam as pessoas a pé, e carros de bois, substituídos estes mais tarde por
tractores, mas progresso ficaria por ai até que um dia tudo isso passaria à
historia.
Depois de vencidas muitas reticencias e
reunidos os fundos necessários meteu-se mão à obra, e uma verdadeira estrada
permitia a circulação de quaisquer veículos entre Rãs, Souto, Romãs e carvalhal
sem etc. sem problema, e era só o começo do empreendimento, porque um novo
bairro de habitação começava a sair da terra junto à artéria que liga o Souto à
Romãs, entre a N.S. da Ajuda e S. Bento,prevendo-se ir mais longe.
Não haveria mais terras incultas naquele
triangulo entre “Rodela, Souto e “Anta”, não só porque cada moradia teria o seu
quintal, mas porque as muitas e minúsculas propriedades fundir-se-iam reduzindo
o numero, aumentando a dimensão, tornando possível e rentável a cultura
mecanizada.
As terras excessivamente húmidas ou secas
deixariam de ser problema, porque os lameiros foram drenados, e com a construção
de lagos artificiais a agua em excesso seria retida e posteriormente utilizada
na irrigação. Nos lagos foram introduzidos peixes para gáudio dos veraneantes
que quisessem dedicar-se à pesca.
Dos pomares plantados colhiam-se os primeiros
frutos, de entre os quais abrunhos moscatel como antigamente só havia na quinta
da S.ra Marquinhas. Hum...
No vértice do triangulo, mais exactamente na
Rodela, seria erigida uma capelinha. Foi proposto que lhe chamassem Senhora da
Europa, porque a U.E. também participou no financiamento. (Que a Senhora da
Ajuda não tenha medo, não haverá concorrência.)
Digam-me agora se um acontecimento desta
natureza não merecia uma grande festa. Festa rija, festa grandiosa, festa
inesquecível: os foguetes continuaram a estalejar: trau. tuuum, trau, tuuum...
Vieram as bandas e as orquestras, o vinho - como diria José Cid, correu à farta
- em suma, uma festa que ficaria na historia.
Quanto à estrada, estava uma obra de arte: De
dia, observando as arvores plantadas de cada lado indicavam-nos a direcção da
igreja de Romãs, dando-nos um vislumbre do que poderia ser a estrada do
paraíso, à noite as luzes faziam-nos lembrar um imenso colar de pérolas doado
por uma princesa qualquer.
Finalmente... Um sonho! E a propósito;
desculpe leitor: foi apenas um sonho!
António S. Leitão.