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vendredi 10 janvier 2014

Senhor dos Caminhos. ( Como diria José Cid.)




Todos os anos eu volto em Agosto ao mesmo lugar, isto é, vindo pelo Sul entro na rãs, viro à esquerda, passo pela Relva e desço lentamente aquela estrada  que outrora era caminho  que tantas vezes palmilhei, e que me leva ao Senhor dos Caminhos.
Observo, qual paisagem imutável, os mesmos pinheiros, os mesmos penedos, desde a idade em que com a minha bata branca e a minha faixa de cruzado, talvez desse uma nota de candura à procissão  dos Domingos de Lazaro.
Depois de dar uma volta ao Santuário, desço até à margem esquerda do Vouga, imobilizo-me no lugar onde outrora construía as minhas casinhas, observo com certa nostalgia aquele rectângulo verde seco, onde passei grande parte da minha adolescência, ora guardando a “castanha” e a “amarela” d Setembro a Janeiro, ora apanhando o feno sob o tórrido calor de Julho.
Tento atravessar o rio onde atravessei centenas de vezes para ir buscar agua fresca a uma nascente situada numa propriedade, pertença de alguém de Vila Boa; ( obrigado pela agua). Ai, um no aperta-me a garganta: Que é da agua cristalina  onde antigamente até lavávamos a loiça? Que é das libelinhas azuis que com os seus voos acrobáticos me faziam esquecer a arduidade do trabalho?
Hoje  abundam as algas e falta a agua. Até os peixes desertaram. Desço até à levada do Trabulo, e ai  ponho-me a sonhar: Não seria possível construir ai uma mini barragem que evitaria  as inundações no Inverno, e constituiria uma reserva para o combate aos incêndios do Verão? E quem sabe se os aviões tipo Canadair lá poderiam abastecer?!
Regresso e sento-me frente  à Igreja; imagino já a agua visível do adro a partir do qual se poderia abrir uma estrada directa ao rio. Quem sabe se até o Senhor dos Caminhos apreciaria! Viriam os peregrinos e os turistas; os peregrinos poderiam tomar banho, e os turistas poderiam rezar e deste modo o Verão seria uma festa naquele local sagrado!
Um tanto ou quanto extenuado, retiro-me para a sombra da carvalha. Recordo os duros trabalhos efectuados durante tantos anos nas imediações da igreja, compensados com as merendas dos dias de festa: o bom cabrito assado e o bom vinho tinto. Se o Senhor dos Caminhos o permitir, para o ano cá estaremos de novo.

António S. Leitão.