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dimanche 8 septembre 2013

A LAREIRA




Escutando e olhando o lume brando,
As avos vão cismando...
E os netinhos dormindo,
Sonham , sorrindo,
Quanto sonho lindo!
Dormem muito bem deitados,
Fazendo o-o, tão descansados!

E o lume canta e rebrilha,
O lume, a fulva maravilha.

O lume que sob a dourada asa,
Protege e aquece o coração da casa.

O lume dos longos seroes,
Das saudades e recordações...

O lume que refulge e doira
A velha avo, tornando-a loira...
E os netinhos dormindo,
Sonham sorrindo,
Quanto sonho lindo!
E, olhando e escutando o lume brando,
As avos vão cismando...

Afonso Lopes Vieira

mardi 3 septembre 2013

Cançao do linho.




Linho fresco florindo,
Bendita flor do nosso amor abrindo,
Virtuosa flor!
Cresce, floresce na paz do Senhor.
Linho em flor.


E fiado serás,
E alvo como a tua alma ficaras.
Alvo ou trigueiro,
Que rico cheiro!

E fiado serás,
Por mãos simples, nos
E maçado...
seroes, e em paz.
E na lareira
E espadelado seras...
Canta a fogueira.

E fiado serás,
E os nuzinhos , piedoso, vestiras.
Linho dos nus
E sol, e luz.
E fiado serás,
E com frescor as chagas cobriras.
Santa frescura:
Consola e cura!

E fiado serás,
E melhor que as rosas cheiraras.
Que perfumado!
Cheira a lavado.

E fiado serás,

E fiado seras.



E bendito por Deus sempre seras!
O flor de amor,
Honesta flor do nosso amor abrindo...

Linho fresco florindo,
Cresce, floresce na paz do Senhor.

Afonso Lopes Vieira.







E lindas toalhas daras.





















Algumas destas fotos foram retiradas da internet; se seus autores se sentirem lesados, tenham a amabilidade de me avisar, e elas serão retiradas. Obrigado.

lundi 2 septembre 2013

Palavras.




Palavras que diminuem
Outras ha que elevam
Umas que enobrecem
Outras que extremam

Umas que encorajam
Outras que enegrecem
Palavras que desprezam
Outras emudecem

Palavras que encaminham
Outras que enegrecem
Palavras que desprezam
Outras que ensurdecem

Tantas que encurralam
Outras que enfraquecem
Umas que enrodilham
Outras que enternecem

Palavras que enfeitiçam
Outras ha que enterram
Umas que desarmam
Outras que embaraçam

Palavras que derrotam
Outras que derreiam
Umas que disputam
Outras que esperneiam

Umas que devoram
Tantas que desdizem
Palavras que fracturam
Outras que afligem

Umas que assassinam
Outras são ardentes
Tantas disciplinam
E outras dementes

Palavras que desterram
Outras desmascaram
Tantas ha que ferram
Outras que embirram

Umas atordoam
Outras enlouquecem
Tantas enevoam
Outras enaltecem

Tantas desafiam
Outras desaprovam
Umas asfixiam
Outras interrogam.

Fernando S. Leitão.




A RAINHA E A SUA ESCRAVA.




-A guerra, à guerra mourinhos!
Quero uma crista cativa!

Uns vão pelo mar abaixo,
Ouros pela terra acima.

Venha uma crista cativa
Que é para a nossa rainha.

Uns vão pele mar abaixo
Ouros pele terra acima.
Os que foram mar abaixo
Não encontraram cativa;
Tiveram melhor fortuna
Os que foram terra acima:
Deram com o conde flores
Que vinha da romaria;
Vinha lá de Santiago,
Santiago da Galiza.
Mataram o conde Flores,
E a condessa foi cativa,
A rainha mal que soube,
Ao caminho lhe saia:

Em boa hora venha a escrava,
Boa seja a sua vinda!
Aqui lhe entrego sestas chaves
Da despensa e da cozinha,
Que não me fio de mouras,
Não me dêem feitiçaria.

Aceito as chaves, senhora,
Por grande desdita minha...
Ontem condessa jurada,
Hoje moça de cozinha!
Duas irmãs que nos éramos,
Ambas de mouros cativas!

Diz-me tu minha escrava,
Tua irmã que nome tinha?
-Chamava-se Branca Rosa,
Branca Flor de Alexandria,
Foi cativada de mouros
Dia de Pascoa florida,
Andava apanhando rosas
Num rosal que meu pai tinha.

-Ai triste de mim coitada!

Ai triste de mim mofina!
Mandei buscar uma escrava,
E trazem-me uma irmã minha!

Deram beijos e abraços,
E uma à outra dizia:

-Quem se vira em Portugal,
Terra que Deus bendizia!

Juntaram muita riqueza
De ouro e pedraria;
Uma noite abençoada
Fugiram da Mouraria;
Foram ter à sua terra,
Terra de Santa Maria;
Meteram-se num mosteiro,
Ambas professam num dia.

Romance popular (adaptação)
( do antigo livro da 3° classe).



O SERMAO DA MONTANHA.




Aldeia. A tarde esvai-se entre harmonias...
Poente de oiro e de rosa, e de lilás...
Ebúrnea, a torre tange ave-marias,
Numa oração quimérica e de paz...

De sobre o monte, nesse adeus doirado,
O Sol olhou-nos com doçura estranha...
Hossana! Ele é Jesus transfigurado,
A pregar-nos do alto da Montanha!

Ele é Jesus. (Nesta hora toda em flor,
Vede o Sol e vereis Jesus presente!)
E fez-se em volta d’Ele um resplendor,
-essa auréola infinita do Poente... 

E Jesus fala! E tudo O escuta: a ave,
O bosque, a rocha, o astro, a imensidade...
E a sua voz é essa luz suave
Com que o sol doira a tarde de saudade...

Voz de penumbra, o seu clarão irial 
É um bálsamo de amor e mansidão,
Ungindo a natureza de Ideal,
O pó, a estrela, o verme, o coração!

E, ungida da doçura dessa luz,
Impregnada de Deus que em si resume,
Ela exala a bondade de Jesus
Como uma rosa exala o seu perfume...

E, pelo monte acima , as oliveiras
São os discípulos rodeando o Mestre...
Segue-se a multidão: as farrobeiras,
O figueiral, o freixo, o azinho agreste...

E as arvores vão sonhando um céu de amor,
Umas sem folhas outras a florir:
Estas pescadores de alma em flor,
Aquelas nus mendigos a sorrir...

Um pastor sírio (um sobro num rochedo...)
Medita, envolto em peles, torso aos nos...
E ele, que escuta lobos, ouve a medo,
O rumor de açucenas dessa voz...

E pelo vale as frescas romãzeiras,
Vermelhas e doiradas sobre a luz,
São noivas de Canà,- lindas trigueiras
Que essa voz de mistério ali conduz...

Olhai aquela macieira, além,
Carregada de pomos, em redor!
Tem os filhos ao colo, a pobre mãe...
Como os ergue nos braços, com amor!

E podre, e mutilado, num arranco
Um tronco surge, de entre os troncos sãos...
E um leproso chagadinho e manco,
Que ergue a Jesus os braços nus, sem mãos...

A terra escuta e sonha ... Uma  palmeira
Sorri ao longe, em êxtase profundo!
Angelizando a Natureza inteira,
O fantasma de Cristo encanta o Mundo!

E ao sonho dessa voz (névoa de estrelas...)
Recorda o litoral ao nosso olhar,
Cafarnaum, Betsaida, e junto a elas,
O mar da Galileia o doce mar!

Lago de Tiberiades gemente,
Cor do céu como os olhos de Maria!
Dir-se-ia que em ti choram vagamente
Esses olhos azuis, ao fim do dia!

E Jesus prega: Bem-aventurados
Os simples, os humildes, os que choram!
(A terra e o céu estão ajoelhados!
E os horizontes mais e mais se enfloram...

E Jesus vai pregando! E todo o pranto
A luz do seu amor vem enxugar!
Ressoa pela tarde, como um canto,
A sua etérea voz crepuscular...

E, ouvindo os ecos dessa voz celeste,
Cala o rio  as vagabundas aguas...
Voam pombas, florindo o monte agreste...
Enchem-se de luar todas as magoas...

E indica a voz do  Sol, saudosa e mansa
(a voz do Rabi, toda perdão),
a cada sofrimento, um céu de esperança,
e um céu de gloria a cada escravidão!

Bernardo de Passos.
De Refugio. In  o antigo livro do 5° ano dos liceus.
(Com a devida vénia).