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vendredi 20 décembre 2013

AQUI NA ORLA DA PRAIA.


Aqui na orla da praia, mudo e contente do
mar,
Sem nada que me atraia, nem nada que
Desejar,
Farei um sonho, terei meu dia, fecharei a vida,
E nunca terei agonia, pois dormirei de seguida.

A vida é como, uma sombra que passa por sobre
um rio
Ou como um passo na alfombra de um quarto
Que jaz vazio;
A gloria concede e nega; não tem verdades a
Fé.

Por isso na orla morena da praia calada e só,
Tenho a alma feita pequena, livre de magoa e
de do;
Sonho sem quase já ser, perco sem nunca ter
tido,
E comecei a morrer muito antes de ter vivido.

Dêem-me, aqui onde jazo, só uma brisa que
passe,
Não quero Ada  do acaso, senão a brisa na
face;
Dêem-me um vago amor de quando nunca
terei,
Não quero gozo nem dor, não quero vida nem
Lei;

Só, no silencio cercado pelo som brusco do
mar,
Quero dormir sossegado, sem nada que
desejar,
Quero dormir na distância de um ser que
nunca foi seu,
Tocado do ar sem fragrância da brisa de
qualquer céu.

Fernando Pessoa.





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