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vendredi 4 juillet 2014

O VELHO, O RAPAZ E O BURRO.


O mundo ralha de tudo,
Tenha ou não tenha razão :
Quero contar um história.
Em prova desta asserção.

Descia um velho campónio
Do seu monte ao povoado ;
Levava um neto que tinha,
No seu burrinho montado.

Encontra uns homens que dizem:
-         olha aquele que tal é !
Montado o rapaz que é forte,
E o velho trôpego, a pé!

-         Tapemos a boca ao mundo.
O velho disse: Rapaz,
Desce d o burro que monto,
E vem caminhando atrás.

Monta-se, mas dizer ouve :
-         Que patetice tam rata !
O tamanhão, de burrinho,
E o pobre pequeno, à pata!

-         Eu me apeio, diz prudente
O velho de boa fé ;
Vá o burro sem carrego,
E vamos ambos a pé.

Apeia-se e outros lhe dizem:
-         Toleirões, calcando lama !
De que lhes serve o burrinho ?
Dormem com ele na cama ?

-         Rapaz, diz o bom do velho,
Se de irmos a pé murmuram;
Ambos no burro montemos,
A ver se inda nos censuram.

Montam, mas ouvem dum lado :
-         Apeiem-se, almas de breu !
Querem matar o burrinho ?
Aposto que não é seu.

-         Vamos ao chão, diz o velho,
Já não sei que hei-de fazer !
O mundo está de tal sorte,
Que se não pode entender.

É mau se monto o burro,
Se o rapaz monta, mau é,
Se ambos montamos é mau,
E é mau, se vamos a pé !

De tudo me têm ralhado ;
Agora que mais nos resta ?
Peguemos no burro às costas,
Façamos inda mais esta.

Pegam no burro : o bom velho
Pelas mãos ergue-o do chão,
Pegua-lhe o rapaz nas pernas,
E assim caminhando vão.

-         Olhem dois loucos varridos!
Ouvem com grande sussurro,
Fazendo às avessas,
Tornados burros do burro !

O velho então pára e exclama:
-         Do que observo me confundo!
Por mais que a gente se mate,
Nunca tapa a boca ao mundo.

Rapaz, vamos como dantes,
Sirvam-nos estas lições ;
É mais tolo quem dá
Ao mundo satisfações.

Curvo Semedo 

vendredi 10 janvier 2014

Senhor dos Caminhos. ( Como diria José Cid.)




Todos os anos eu volto em Agosto ao mesmo lugar, isto é, vindo pelo Sul entro na rãs, viro à esquerda, passo pela Relva e desço lentamente aquela estrada  que outrora era caminho  que tantas vezes palmilhei, e que me leva ao Senhor dos Caminhos.
Observo, qual paisagem imutável, os mesmos pinheiros, os mesmos penedos, desde a idade em que com a minha bata branca e a minha faixa de cruzado, talvez desse uma nota de candura à procissão  dos Domingos de Lazaro.
Depois de dar uma volta ao Santuário, desço até à margem esquerda do Vouga, imobilizo-me no lugar onde outrora construía as minhas casinhas, observo com certa nostalgia aquele rectângulo verde seco, onde passei grande parte da minha adolescência, ora guardando a “castanha” e a “amarela” d Setembro a Janeiro, ora apanhando o feno sob o tórrido calor de Julho.
Tento atravessar o rio onde atravessei centenas de vezes para ir buscar agua fresca a uma nascente situada numa propriedade, pertença de alguém de Vila Boa; ( obrigado pela agua). Ai, um no aperta-me a garganta: Que é da agua cristalina  onde antigamente até lavávamos a loiça? Que é das libelinhas azuis que com os seus voos acrobáticos me faziam esquecer a arduidade do trabalho?
Hoje  abundam as algas e falta a agua. Até os peixes desertaram. Desço até à levada do Trabulo, e ai  ponho-me a sonhar: Não seria possível construir ai uma mini barragem que evitaria  as inundações no Inverno, e constituiria uma reserva para o combate aos incêndios do Verão? E quem sabe se os aviões tipo Canadair lá poderiam abastecer?!
Regresso e sento-me frente  à Igreja; imagino já a agua visível do adro a partir do qual se poderia abrir uma estrada directa ao rio. Quem sabe se até o Senhor dos Caminhos apreciaria! Viriam os peregrinos e os turistas; os peregrinos poderiam tomar banho, e os turistas poderiam rezar e deste modo o Verão seria uma festa naquele local sagrado!
Um tanto ou quanto extenuado, retiro-me para a sombra da carvalha. Recordo os duros trabalhos efectuados durante tantos anos nas imediações da igreja, compensados com as merendas dos dias de festa: o bom cabrito assado e o bom vinho tinto. Se o Senhor dos Caminhos o permitir, para o ano cá estaremos de novo.

António S. Leitão.