E, vos, o bem nascida segurança
Da Lusitana antiga liberdade,
E não menos certíssima esperança
De aumento da pequena Cristandade;
Vos, o novo temor da Maura lança,
Dada ao mundo por Deus, que todo o mande,
Pêra do mundo a Deus dar parte grande;
Vos, tenro e novo ramo florescente
De uma arvore de Cristo mais amada
Que nenhuma nascida no Ocidente,
Cesária ou Cristianíssima chamada
(Vede-o no vosso escudo, que presente
Vos amostra a vitoria já passada,
Na qual vos deu por armas e deixou
As que ele pêra si na Cruz tomou);
Vos, poderoso Rei, cujo alto Império
O Sol, logo em nascente, vê primeiro,
Vê-o também no meio do Hemisfério,
E quando desce o deixa derradeiro;
Vos, que esperamos jugo vitupério
Do torpe Ismaelita cavaleiro,
Do Turco Oriental e do Gentio
Que inda bebe o licor do santo rio:
Inclinei por um pouco a majestade
Que nesse tenro gesto vos contemplo,
Que já se mostra qual na inteira idade,
Quando subindo ireis ao eterno templo;
O s olhos da real benignidade
Ponde no chão: vereis um novo exemplo
De amor dos pátrios feitos valorosos,
Em versos divulgado numerosos.
Vereis
amor da pátria, não movido
De premio vil, mas alto e quase eterno;
Que não é premio vil ser conhecido
Por um pregão do ninho meu paterno.
Ouvi: vereis o nome engrandecido
Daqueles de quem sois senhor supremo,
E julgareis qual é mais excelente,
Se ser do mundo Rei, se de tal gente.
Ouvi, que não vereis com vãs façanhas,
Fantásticas, fingidas, mentirosas,
Louvar os vossos como nas estranhas
Musas de engrandecer-se desejosas:
As verdadeiras vossas são tamanhas
Que excedem as sonhadas, fabulosas,
Que excedem Rodamonte e o vão Rugeiro
E orlando, inda que fora verdadeiro.
Luís de Camões.
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