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lundi 25 novembre 2013

O ANDAIME




O tempo que eu hei sonhando
Quantos anos foi de vida!
Ah, quanto do meu passado
Foi só a vida mentida
De um futuro imaginado!

Aqui à beira do rio
Sossego sem ter razão,
Este seu correr vazio
Figura, anónimo e frio,
A vida vivida em vão.

A ‘sp’rança que pouco alcança!
Que desejo vale o ensejo?
E uma bola de criança
Sobre mais que minha ‘s’prança,
Rola mais que o meu desejo.

Ondas do rio, tão leves
Que não sois ondas se quer,
Horas, dias, anos breves
Passam – verduras ou neves
Que o memo sol faz morrer.

Gastei tudo que não tinha,
Sou mais velho do que sou.
A ilusão , que me mantinha,
So no palco era rainha:
Despiu-se, e o reino acabou.

Leve som das aguas lentas,
Gulosas da margem ida ,
Que lembranças sonolentas
De esperanças nevoentas!
Que sonhos o sonho e a vida!

Que fiz de mim? Encontrei-me
Quando estava já perdido
Impaciente deixei-me
Como a um louco que teime
No que lhe foi desmentido.

Fernando Pessoa.

(Com a devida vénia).


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